A marcha com os pés para dentro é uma condição muito comum e benigna na grande maioria dos casos. É muito importante identificar o local da rotação bem como afastar as causas patológicas desse desvio. Em geral o acompanhamento através da observação do paciente é suficiente para tranquilizar a família e aguardar a correção com o desenvolvimento.
Introdução
O posicionamento dos pés para dentro durante a caminhada é uma queixa muito frequente dos pais no consultório do especialista em pés e tornozelos. Comumente, essa maneira de andar, está relacionada a uma variação rotacional do membro inferior onde os pés e os dedos apontam para a linha média do corpo quando o paciente está caminhando.

Essa é uma das variações musculoesqueléticas anatômicas mais comuns e um motivo frequente de encaminhamento ao ortopedista. No entanto, a maior parte das crianças com esse tipo de marcha apresenta variações do desenvolvimento normal dos membros, que, em geral, melhoram espontaneamente ao longo do desenvolvimento.
Desenvolvimento normal dos membros inferiores
Entender o crescimento e desenvolvimento dos membros inferiores é fundamental para avaliação do alinhamento rotacional da criança. O alinhamento rotacional da extremidade inferior é determinado pelo alinhamento do pé. No entanto a origem da rotação pode está relacionada a rotação da perna ou do colo do fêmur, a chamada anteversão femoral.
Normalmente a rotação é acentuada entre seis meses e cinco anos de idade, quando as crianças estão desenvolvendo a locomoção e coordenação motora. Quando o crescimento normal ocorre e a coordenação é aprimorada, em geral, ocorre a resolução espontânea das variações rotacionais.
Tudo começa com o posicionamento intrauterino. No segundo mês de gestação, o membro inferior roda para dentro. Com o avançar da gestação, as tíbias e os pés são rodados para dentro, enquanto os quadris e fêmures são rodados lateralmente. O posicionamento do bebe sentado ou cefálico não parece ter associação com o desenvolvimento das deformidades rotacionais após o nascimento.
Causas da Marcha para Dentro
- Origem no pé (metatarso aduto) – 1º ano
- Origem na perna (torção interna da tíbia) – 1º ao 3º ano
- Origem do quadril (aumento da anteversão femoral) – a partir do 3º ano

O que a criança sente?
A marcha com os pés para dentro em geral não provocam dor ou atrapalham o desenvolvimento e a estabilidade da marcha, no entanto, quanto maior for a rotação, maior a frequência em que essas crianças podem tropeçar, principalmente após terem realizado atividades mais intensas.
Existem causas patológicas para a marcha com os pés para dentro?
Infelizmente a resposta é sim! Causas patológicas, apesar de incomuns, existem e normalmente incluem doenças neuromusculares, como a paralisia cerebral, distúrbios do quadril como a DDQ (displasia do desenvolvimento do quadril) e deformidades permanentes da perna.
De maneira geral, medidas conservadoras são indicadas em casos classificados nos estágios leves, enquanto lesões graves, que provoquem algum tipo de limitação ou incapacidade, podem necessitar de medidas mais invasivas.
Avaliação
Os objetivos principais da avaliação são identificar as queixas e angústias dos pais e principalmente excluir as causas patológicas da doença. A história e o exame físico geralmente são suficientes para atingir esses objetivos.
Com esse intuito o médico deve obter uma história detalhada do paciente, incluindo idade gestacional, complicações, marcos do desenvolvimento, história familiar. Além disso um exame físico completo em busca do ponto da deformidade e isso é compatível com a idade em que o paciente se encontra e se existem outras alterações associadas.
Tratamento e Acompanhamento da marcha com os pés para dentro
O primeiro passo no cuidado desses pacientes é estabelecer um diagnóstico adequado. A caminho natural da maioria das rotações dos membros é a resolução espontânea, que deve ocorrer à medida que a criança cresce e se desenvolve.
Isso inclui a orientação aos pais que precisam saber:
- A marcha para dentro é uma variação comum do desenvolvimento.
- Essa alteração resolve-se espontaneamente à medida que a criança cresce.
- Mesmo que não ocorra a correção total, problemas funcionais de longo prazo são raros (taxa menor que 1 em cada 1000 crianças afetadas)
Muito importante salientar que ao tranquilizar a família, é extremamente útil explicar que a abordagem dessa questão mudou ao longo do tempo. Os pais e avós podem se lembrar de uma época em que as variações rotacionais eram consideradas problemas sérios e eram tratadas com órteses, botas, imobilizações seriadas entre outras coisas. Explicar sobre a patologia e salientar que o entendimento sobre a questão veio mudando ao longo dos anos tem uma importância ímpar.
Referências
https://www.uptodate.com/contents/search
FAQ
1. Como corrigir o pé torto para dentro?
A grande maioria das causas de marcha com o pé para dentro estão associadas ao metatarso aducto, rotação interna da tíbia e excesso de anteversão do colo femoral. Em geral isso é corrigido com o desenvolvimento. No entanto, algumas causas neurológicas e de desenvolvimento como o pé torto congênito, precisam de avaliação e tratamento específico com órteses, gessos seriados e até mesmo cirurgias.