A fratura dos metatarsos é responsável por uma parcela significativa dos traumas que ocorrem nos pés, podendo representar mais de 30% de todas as fraturas do pé.
Introdução
As fraturas dos ossos metatarsais são responsáveis por uma parcela significativa dos traumas que ocorrem nos pés, podendo representar mais de 30% de todas as fraturas do pé.
Muito embora essas fraturas possam acontecer em qualquer indivíduo, essas lesões são mais comuns em:
- Mulheres (2 vezes mais comuns)
- Atletas
- Pessoas entre a segunda e a quinta décadas de vida
Em relação a frequência de ocorrência, as fraturas do quinto metatarso são mais comuns, seguidas pelos metatarsos centrais e por último e por último as lesões do primeiro.
Mecanismo de Lesão
A maioria das fraturas do metatarso ocorre por trauma de baixa energia a moderada energia, no entanto pode estar associado a acidentes automobilísticos e traumas perfurantes.
A maior parte das fraturas dos metatarsos centrais ocorrem associadas aos metatarsos adjacentes. Quando ocorrem de forma isolada, deve-se avaliar as articulações adjacentes em busca de lesões ligamentares. Entretanto, as fraturas do primeiro e do quinto metatarsais se apresentem mais comumente de maneira isolada. As fraturas do quinto estão muito associadas a traumatismos torcionais, e as fraturas que ocorrem em sua base, merecem um capítulo à parte.
Fraturas por estresse também podem ocorrer nos metatarsais. Eles são vistos tipicamente em mulheres com osteoporose / osteopenia, atletas com lesões por esforço repetitivo, portadoras de distúrbios menstruais ou alimentares, incluindo mudanças recentes de dietas.
Anatomia
Os metatarsos se dividem em: Primeiro metatarso, metatarsos centrais, do 2o ao 4o e o quinto, na região lateral.

Imagem mostrando os ossos metatarsais na figura a direita, demonstrado pela seta branca. A esquerda a região correspondente no pé.
O primeiro metatarso é maior do que os outros quatro metatarsos. A sua cabeça do recobre os 2 ossos sesamoides, que fornecem 2 dos 6 pontos de contato da frente do pé com o solo, permitindo que este osso suporte até 40% do peso.

Imagem de Raios X demonstrando a divisão através das linhas brancas em 3 grupos, nos quais estão o primeiro metatarso , os centrais, do segundo ao quarto, e mais lateralmente o quinto metatarsal.
Os metatarsos centrais têm estruturas ligamentares significativas que ligam cada osso a seus vizinhos, e por esse motivo a fratura de um desses ossos está geralmente associada a lesão dos ossos adjacentes.
Apresentação Clínica de uma Fratura dos Metatarsos
Os sinais e sintomas mais característicos da fratura dos metatarsos estão relacionados ao edema local no dorso do pé, limitação para deambular, creptação, equimose, e sinais flogísticos / inflamatórios locais.
PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS:
- Dor, principalmente ao dar carga no membro afetado
- Edema no dorso do pé
- Aumento de temperatura local
- Creptação ao mobilizar
- Equimose

Imagens clínicas e de raios x, demonstrando um pé edemaciado, com equimose devido a uma fratura diafisária do segundo metatarsal após trauma direto local.
Exame Médico
Uma avaliação criteriosa deve ser realizada na suspeita de fratura dos metatarsos. A avaliação deve incluir a pesquisa de lesões associadas, pontos de exposição e a pesquisar a possibilidade de síndrome compartimental aguda, que indicaria tratamento cirúrgico de urgência.
A síndrome compartimental aguda ocorre, quando o edema é tão intenso, que compromete a circulação sanguínea local e pode levar a necrose dos tecidos musculares e neurais locais. O principal sintoma associado a é a dor intensa que não cede ao uso das medicações, e seu tratamento consiste em procedimento cirúrgico de urgência, com o intuito de aliviar a compressão das estruturas locais.
Diagnóstico de uma fratura dos Metatarsos
O diagnóstico deve ser baseado na composição de uma história detalhada, associado ao exame físico criterioso e exames de imagem. As radiografias costumam ser suficientes para diagnosticar as fraturas, no entanto, em muitos casos, exames de tomografia podem ser necessários para o planejar o procedimento cirúrgico.

Imagem radiográfica do pé esquerdo fraturado. As setas brancas indicam os locais das lesões do primeiro, segundo e terceiro metatarsos.
Tratamento para uma fratura dos Metatarsos
Primeiro Metatarsal
O primeiro metatarso é importante para um caminhar normal. O encurtamento ou instabilidade residuais, que podem ocorrer após uma fatura dessa região, podem levar à transferência de cargas para os metatarsos laterais e consequentemente à metatarsalgia.
O objetivo do tratamento dessas fraturas é o de restaurar o comprimento e o alinhamento para reduzir o potencial de transferência de peso para os metatarsos menores. O local da lesão, o tipo da fratura, o desvio e a estabilidade são os principais fatores considerados ao determinar o tratamento, que pode ser conservador ou cirúrgico.
QUANDO TRATAR CONSERVADOR?
- Não desviadas ou desvio mínimo
- Sem encurtamento
- Sem exposição
- Sem sinais de síndrome compartimental aguda
Diversos tipos de órteses para imobilização da região fraturada e articulações adjacentes devem permitir carga imediata protegida. Os principais modelos utilizados atualmente são as botas removíveis de cano curto ou as sandálias ortopédicas removíveis de solado rígido.

Exemplos de órteses imobilizadoras que podem estar indicadas para o tratamento conservador das fraturas dos metatarsos.
QUANDO TRATAR COM CIRURGIA?
O tratamento cirúrgico está indicado nas fraturas instáveis e naquelas com desvios significativos. O deslocamento do plano sagital, ou seja, para cima e para baixo, é a principal preocupação, principalmente quando o osso apresenta-se elevado, em dorsiflexão, devido a possibilidade de transferência de carga e subsequente metatarsalgia por transferência.
As indicações clássicas são:
- Desvio angular maior que 10
- > 3 a 4 mm de desvio
- Traço articular
- Deformidade rotacional
- Encurtamento
Quando existe acometimento articular, como nas fraturas da cabeça da base requerem a restauração de um articulação congruente para reduzir o risco de artrose pós-traumática e deformidades associadas.

Imagens de raios X demonstrando diversas montagens de fraturas do primeiro metatarso, através da fixação com lacas e parafusos.
Metatarsos Centrais (2º ao 4º)
Os metatarsais centrais são relativamente mais estáveis devido as conexões de partes moles e menor mobilidade da região. Dessa forma, fraturas não deslocadas ou pouco deslocadas são frequentemente tratadas de forma não cirúrgica.
QUANDO TRATAR CONSERVADOR?
Nas fraturas sem ou com pouco desvio, o tratamento não cirúrgico está autorizado. Assim como nas fraturas do primeiro metatarsal, o uso de órteses imobilizadoras que ajudem a equilibrar a distribuição de cargas está indicada. O uso de muletas ou andadores podem auxiliar o indivíduo durante as primeiras semanas. Controlar o edema auxilia na recomposição da amplitude de movimento e redução dos agentes infamatórios locais, promovendo uma cicatriz de melhor qualidade. Para esse objetivo, gelo, elevação do membro e compressão local.
QUANDO TRATAR COM CIRURGIA?
A translação dorsal ou plantar do metatarso em torno de 4 mm ou mais, pode aumentar a tensão e redistribuir as cargas determinada área no antepé, por esse motivo, nessas situações, a intervenção cirúrgica esta indicada.
No entanto, a estabilidade inerente fornecida pelas estruturas de tecidos moles circundantes limita esse deslocamento e essa estabilidade pode permanece intacta, mesmo na presença de múltiplas fraturas metatarsais concomitantes. A maior parte dessas fraturas irão evoluir com bom desfecho clínico, com o tratamento conservador, mas devemos estar atentos às exceções.
Quinto Metatarsal
As fraturas do quinto metatarso são as mais comuns entre asd fraturas do metatarso e o seu manejo da zona da lesão ou seja, do ,ocal em que a fratura ocorreu.
As fraturas da base do 5o metartarsal podem ocorrer em três zonas diferentes e merecem um capitulo à parte. Você pode ter acesso ao artigo Fraturas da Base do 5o Metatarsal através deste link.
Já as fraturas diafisárias, que estão sendo descritas nesse artigo, costumam apresentar excelente evolução com tratamento conservador, sendo a indicação cirurgia uma exceção.

Imagens de raios X demonstrando fratura diafisária do quinto metatarsal.
Nesses casos, o tratamento conservador através do uso de órteses removíveis, como as botas de cano curto ou papetes ortopédicas, costumam apresentar excelentes resultados.
Complicações de uma fratura dos Metatarsos
As complicações relacionadas a esse tipo de fratura estão relacionadas principalmente há 2 grandes grupos de complicação: Não União ou Consolidação Viciosa.
A Não União ou ausência de consolidação é mais comuns em indivíduos com problemas de circulação, tabagistas e naquelas pacientes que não realizaram tratamento de maneira adequada, principalmente nos que negligenciaram o tempo de imobilização. Ela pode ocorrer tanto nos indivíduos que realizaram o tratamento cirúrgico quanto o não cirúrgico.

Imagens de raios X em anteroposterior e oblíqua, demonstrando não união na diáfise do segundo metatarso.
A consolidação viciosa ocorre quando o osso consolida em uma posição inadequada, podendo levar a um quadro doloroso, principalmente por alterar as distribuições de carga no antepé e médio pé. Ela acontece mais comumente quando o indivíduo não realiza o tratamento conservador quando indicado, ou não realiza o uso das imobilizações, desviando o posicionamento da fratura.
Conclusão
As fraturas do metatarso não são todas iguais. Elas apresentam padrões diferentes, que dependem do trauma e do metatarso acometido. Fraturas isoladas do primeiro metatarso não desviadas são normalmente tratadas de forma não cirúrgica, enquanto o tratamento cirúrgico é geralmente reservado para aquelas com encurtamento e desvios significativos.
As fraturas centrais são mais comuns e muitas vezes podem ser tratadas de forma não cirúrgica, embora o deslocamento grave de uma fratura isolada ou múltiplas fraturas do metatarso possam justificar a intervenção cirúrgica. As fraturas do quinto metatarso são as mais comum de todas, e quando ocorrem na diáfise, quase sempre o tratamento é conservador e apresenta ótimos resultados.
Você Teve ou Tem uma Fratura dos Metatarsos?
Procure um ortopedista especialista em tornozelo e pés de confiança. Quanto antes a avaliação for realizada, maiores as chances de sucesso no tratamento.
Sempre procure diagnóstico, orientações médicas e um plano de tratamento individualizado. O Núcleo de Ortopedia Especializada possui especialistas renomados em todas as áreas da ortopedia moderna.
Referências:
www.abtpe.org.br
www.uptodate.com
www.mayoclinic.org
Metatarsal Fractures
Nana O. Sarpong, MD, MBA, Hasani W. Swindell, MD, Evan P. Trupia, MD, J. Turner Vosseller, MD
FAQ
1. Quanto tempo dura a recuperação de uma fratura do metatarso?
A recuperação pós uma fratura do metatarso está diretamente relacionada ao tempo de consolidação óssea. Em média a consolidação ocorre em torno de 6 a 8 semanas, mas esse tempo pode ser maior a depender da gravidade da lesão e das comorbidades do indivíduo.
2. Como tratar a fratura do metatarso?
Em geral, a fratura do metartarso é tratada da maneira conservadora, através do uso de órteses removíveis, como as botas de cano curto ou papetes ortopédicas, e costumam apresentar excelentes resultados. No entanto, principalmente nas fraturas do primeiro metatarsal e dos metatarsais centrais, quando muito desviadas ou encurtadas podem ter indicação cirúrgica.
3. O que fazer quando quebra o metatarso?
Quando se suspeita de uma fratura do metatarso a primeira conduta é evitar apoiar o pé machucado e procurar um médico de confiança, para que ele realize um exame minucioso e solicite os exames necessários para completar o diagnóstico e indique o tratamento adequado.